
... sinto falta de quando eu era a prioridade pra certos aspectos, sinto falta de brincar de cavalinho na barriga do papai, sinto falta de "manhar" no sinal do ombro esquerdo da mamãe enquanto eu ficava em cima de suas costas. Mãe, sinto falta das tardes em que saíamos sem compromissos pra ir ao shopping. Pai, sinto falta de quando o senhor me deixava no ponto de ônibus, mesmo que no silêncio total da nossa permanência ali. Eu sinto falta das nossas viagens em família, principalmente, das viagens da minha família. Eu sorria mais enquanto conhecia novos lugares e tomava banhos nas praias desconhecidas, e mofava menos porque eu não precisava passar tanto tempo trancada no meu quarto; eu sorria mais, porque eu via com mais frequência a luz do Sol; eu vivia mais, porque eu respirava mais novos e puros ares.
Amo ver vocês felizes e realizados com o motociclismo, mas odeio o fato de que foi necessário uma troca, e o que eu faço hoje não passa de insuficiente ou, no máximo, mais do que obrigação. Do que adianta não ter culpa e ser conivente com o erro? Do que vale o motociclismo se quando chegarem da fisioterapia ele não vai ter feito o jantar? Será que R$10, R$15 ou R$20 pagam a consequência da ausência que o egocentrismo de vocês faz com que vocês cometam por meras viagens que só trarão aborrecimentos, fofocas e inimizades futuras?
Eu sei exatamente porque vocês agem dessa forma: porque sabem que no fim das contas, quando vocês mais precisarem, eu não vou ter saído do meu quarto amarelo, que mais parece cinza pelo clima que abriga, e que quando vocês gritarem por ajuda, eu vou abrir a porta e colocar os pés para fora. Só estão esquecendo de um detalhe: coração também pede descanso, e eu não sou - nem pretendo ser - eterna.
Eu amo muito vocês. Sinto falta das nossas vidas.